Moisés percebeu que uma voz vinha do meio das chamas. As chamas faziam a sarça arder sem, porém, a consumir. Um misto de temor e curiosidade o envolvia de modo que ele queria se aproximar sem saber se devia. Ele se aproximaria de forma invasiva, mas das chamas a voz o alertou para tirar as sandálias. Não se invade um espaço sagrado. Um espaço sagrado se adentra delicadamente.

O diálogo que viria a seguir, entre a voz da chama e Moisés mudaria definitivamente sua vida e a vida de milhares e milhões de pessoas. Moisés havia chegado ali procurando uma ovelha, mas sairia dali como pastor de multidões. Seria guia, pastor, líder religioso, mestre judicial, chefe militar e modelo de santidade.

A vocação é aquilo que surpreendentemente nos transforma sem que percebamos. Não se pode definir a vocação apenas pelo que se faz ou apenas pelo que se é, mas da somatória do ser, fazer e sentir, donde nasce a pessoa humana vocacionada.

Há tantas vozes que chamam para tantos vales que são inicialmente “verdes prados”, mas que mais tarde se tornam “vale de lágrimas”. Tais vozes são perversas e podem ser reconhecidas pelo que produzem no ser humano. A perversa voz do mundo, diferente da Voz da sarça ardente, tem como combustível a alma humana. Ela consome a esperança do homem e torna árido seu coração.

A Voz de Deus, diferente da falsa ilusão mundana, faz arder o coração do vocacionado pondo nele um desejo profundo de semear o amor, superar a injustiça e produzir um mundo melhor. Mas o ardor vocacional não consome. A vocação não permite invasão, ou seja, não se destrói o que a pessoa é, mas considera sua história, seja ela triste ou alegre e, a partir dessa base, ergue-se um edifício. Aqueles que se aproximam da Chama nunca sabem exatamente como sairão daquele encontro. Mas Deus é conhecido por tornar o gago um hábil pregador, por tornar um pescador de peixes num pescador de homens, por transformar um perseguidor  num construtor da Igreja e assim por diante. Então, inicialmente perseguimos ovelhas, sonhos e ilusões, mas no fim caminhamos sempre atrás da Voz que nos chama.

Por isso Deus é o fogo que nos chama para a Vocação e é a Chama que não nos consome. Deus Chama.


Pe. Ângelo José Adão, SCJ

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