O dia em que nascemos
E sobre a Vigília
Pascal... Muitas vezes ouvimos dizer que os cristãos têm o costume de
“enterrar” o seu Senhor na sexta-feira da Paixão, mas esquecem de “ressuscitá-lo”
no sábado de aleluia. Talvez isto não se dê tanto por esquecimento, mas por
desconhecimento. É verdade que onde se tem o costume de celebrar o “descimento
do Senhor da cruz”, as praças (ou igrejas) ficam cheias. Porém, no Sábado à
noite as igrejas não apresentam o mesmo número de fiéis. Este fato se dá, em
muitos casos, por acharmos mais importante ou sermos mais devotos da
sexta-feira da Paixão do que da Vigília Pascal no Sábado. Outras pessoas alegam
que a missa é muito demorada, às vezes até chata. “Tem muita cantoria, e, nada
mais, nada menos do que oito leituras, sete salmos responsoriais e mais o
evangelho”. Porém, aqueles que se fazem atentos ao espírito da Páscoa acabam
por concluir que é, de fato, a celebração mais bonita que já participaram.
Para que a celebração da
Vigília Pascal seja bem vivida são necessários três elementos importantes: uma
boa preparação da equipe litúrgica, uma compreensão maior dos fiéis sobre os
riquíssimos símbolos desta celebração e uma íntima preparação espiritual de
cada fiel.
A equipe litúrgica tem a
missão de preparar com bastante antecedência esta celebração. Para isto é
preciso da participação de todo pessoal da música, leitores, coroinhas,
sacristãos, comentaristas, ministros da Eucaristia e, se possível, o diácono e
o padre. É preciso repassar o esquema da celebração, as suas partes que convêm
cantar, os detalhes do material litúrgico, bem como da ornamentação. Deve-se
ter cuidado com a acomodação do povo, pois de fato é uma celebração de longa
duração. Depois de tudo pronto, é só esperar a festa!
A celebração da Vigília
Pascal é, em muitas das suas partes, auto-explicativa, mas convêm que a equipe
litúrgica conheça alguns dos seus símbolos e ritos principais. A catequese
também é responsável por educar as crianças e jovens sobre tais significados.
Temos, já no início da
celebração, a parte chamada de “lucernário”, ou seja, celebração da Luz: o povo
reunido ao redor de uma fogueira participa da benção do fogo novo que dará luz ao Círio Pascal. O fogo novo
representa Jesus Ressuscitado vencedor da escuridão da morte e do pecado e que
se torna Luz Vital. Ao adentrar a igreja em penumbra, o presidente da
celebração proclama a “Luz de Cristo” que ilumina nossa vida. Também os fiéis
adentram a igreja como povo que segue a “Coluna de Fogo Luminosa”, tal qual
Deus guiando o povo para fora do Egito (Ex 13,21). Na segunda aclamação da “Luz
de Cristo” o povo acende suas velas no Círio Pascal compartilhando da luz do
Ressuscitado.
Antes da terceira
aclamação as luzes da igreja são acesas. Depois de aclamada a “luz de Cristo” o
diácono ou o presidente proclama a Páscoa com o canto do Precônio Pascal
apelidado de “Exultet”. Este
belíssimo canto, quando cantado de modo apropriado, permite compreendermos de
forma poética o Mistério do Amor de Deus em nossa história.
A segunda parte da
celebração é a Liturgia da Palavra que, com um número maior de leituras e
salmos, descreve e proclama a História da Salvação passando pela criação,
aliança de Deus com o homem, libertação da escravidão do Egito e as profecias
sobre a vinda do Cristo salvador. Depois da sétima leitura o presidente evoca o
Hino de Louvor (Glória) que é acompanhado por toda a assembleia de modo alegre
e festivo. Há ainda uma carta paulina exaltando a ressurreição. Tudo isto
culmina na narração evangélica sobre a Ressurreição que é antecedida pelo
solene aleluia, aquele que estava “engasgado na garganta” durante o tempo de
conversão quaresmal. Os salmos que intercalam as leituras são as respostas ao
amor de Deus na nossa historia. As orações expressam nosso desejo de continuar
caminhando como povo eleito.
A terceira parte é a
Liturgia Batismal. Os batizados celebrados nesta noite enriquecem o sentido da
celebração mas, mesmo quando não há batizados, esta parte faz referência a
todos os cristãos convidados a renovar sua fé no Cristo. A benção da água
batismal, a imersão do Círio Pascal, a ladainha dos santos e o rito batismal são
as expressões do nosso renascimento das águas renovadoras e revigorantes do
Batismo.
A Liturgia Eucaristia é a
quarta parte desta celebração. Uma vez que a vitória da Ressurreição dá novo
sentido a imolação (paixão e morte) do nosso Cordeiro Redentor, nós, como
cristãos, pelo batismo participamos sacramentalmente da imolação e glorificação
de Cristo presente na Eucaristia. É por isto que dizemos que a Eucaristia nos
torna “outro Cristos”, redimidos, revitalizados e também comprometidos com a
caridade.
A Celebração da Vigília
Pascal tem outros símbolos e significados que ao serem conhecidos torna a nossa
participação mais motivada e consciente. Fica aqui um convite para buscarmos
conhecê-los de modo mais aprofundado.
Há ainda um terceiro
elemento que torna a nossa participação na Vigília Pascal mais consciente: a
nossa disposição interna de celebrar o Mistério Pascal. Se o fiel não se dispuser
a participar “em espírito e verdade”, de nada servirá para si os preparativos
da equipe litúrgica e o conhecimento litúrgico da celebração. Podemos entender
esta preparação assim: quando alguém prepara uma ceia, o cheiro da comida, as
cores dos enfeites, as músicas que preparam o “clima” do banquete. Tudo isto
põe a família ansiosa para a refeição. Porém, se logo na preparação as pessoas
começam a beber e a beliscar a comida, na hora da refeição não haverá apetite,
nem disposição física para participar. Assim também é conosco. O recolhimento
interior da sexta-feira da Paixão e o silêncio da manhã do Sábado devem nos
conduzir a uma ansiosa espera para a festa da Ressurreição.
Enfim, pelo próprio
batismo o cristão participa da Ressurreição de Cristo. Nele nós recebemos uma
vida nova: “Ou vocês não sabem que todos
nós, que fomos batizados em
Jesus Cristo , fomos batizados na sua morte? Pelo batismo
fomos sepultados com ele na morte, para que, assim como Cristo foi ressuscitado
dos mortos por meio da glória do Pai, assim também nós possamos caminhar numa
vida nova” (Rm 6,3-4). Ora, assim como nunca se ouviu dizer que alguém estivesse
ausente no dia do próprio nascimento, assim também não podemos faltar daquela
celebração que é para nós vida nova.
REFERÊNCIAS PARA ESTE ARTIGO:
BERGAMINI,
Augusto. Cristo festa da Igreja – o ano
litúrgico. São Paulo: Paulinas. p.
351-376.
CNBB. Roteiros homiléticos da Semana Santa e Tempo Pascal ano C 2007. São
Paulo: Paulinas. 2007.110p.
CONCÍLIO
ECUMÊNICO VATICANO II. “Constituição Sacrosanctum
Concilium sobre a Sagrada Liturgia”. In Compêndio do Vaticano II -
constituições, decretos, declarações. 19a. ed. Petrópolis:
Vozes, 1987, p. 259-306.
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